MARX CONTEMPORÂNEO
Espaço de debate do pensamento marxista contemporâneo, como apoio ao Projeto de Monitoria do Bloco de disciplinas de Economia Política da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
terça-feira, 6 de março de 2018
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
O crescimento demográfico da
população jovem brasileira e suas implicações sociais e econômicas
Gedson
Thiago do Nascimento Borges[i]
As
características populacionais de um país são variáveis extremamente relevantes
para construção das políticas públicas de uma nação, pois, o aspecto
demográfico norteia a relação básica entre o gerenciamento dos recursos públicos
com o nível de habitantes que dada região possui. Lançando o olhar para o
Brasil observa-se que o crescimento demográfico teve um salto considerável, de
17 milhões ,em 1900, o número de habitantes passou para 170 milhões, em 2000.
Esse mesmo país que em apenas cem anos multiplicou por dez a sua população
apresenta também, como característica populacional recente, o maior nível
demográfico de jovens da história do país.
Segundo estimativas da Secretária de Assuntos Estratégicos
de presidência da República (SAE), ainda nas quatro primeiras décadas do século
XXI o comportamento de crescimento da população brasileira viria a ultrapar os
200 milhões e chegaria aos 220 milhões de habitantes. No entanto, a
característica desse ritmo de crescimento se dá pelo número de mulheres com
idade fértil (de 15 a 49 anos), o qual mantém o nível de natalidade maior que o
nível de mortalidade, mesmo com uma taxa de fecundidade (número médio de filhos
que teria uma mulher ao final de seu período reprodutivo), abaixo do nível de
reposição.
Em meio a esse boom
populacional, a parcela jovem, faixa etária, definida de acordo com a Emenda
Constitucional nº 65 de 2010, que vai dos 15 anos aos 29 anos e seus subgrupos:
jovens - adolescentes (15 a 17 anos); jovens – jovens (18 a 24 anos) e jovens –
adultos (25 a 29 anos), representam uma parcela considerável da população
brasileira.
A mensuração gráfica do número de jovens brasileiros
não se dá pela formação de um triângulo com um pico identificando o número
máximo de jovens, mais por um trapézio, o qual aglutina a faixa etária de jovem
em determinado período. A contagem de jovens no Brasil leva em consideração o coorte de natalidade da população que
completa 15 anos até os 29 anos, com a diferença do coorte que completa 30 anos acrescido da quantidade de jovens
mortos no período.
Ainda sobre as definições do tamanho da juventude
brasileira, temos as definições da SAE:
“quando a contabilidade
completados fluxos é levada em consideração, o crescimento no tamanho da
juventude (V) é igual à diferença entre a entrada de novos jovens (A), formada pela
coorte que acaba de completar 15 anos, e a saída de pessoas da juventude, que
ocorre ou por transição à fase adulta - aqueles que completam 30 anos - (B) ou
por morte (C). Logo, V = A-(B+C)=(A-B)-C. Hoje, aqueles que entraram na
juventude15 anos antes (E) ou já saíram devido à mortalidade(D), ou saem nesse
ano ao transitarem à vida adulta (B). Portanto, o tamanho da coorte de
entrada há 15 anos é dado por: E = B+D. Assim, em cada ano, a diferença entre o
tamanho da coorte que entra na juventude (A) e a que entrou 15 anos antes (E),
nossa aproximação (V*) para o aumento no tamanho da juventude, é dada por: V*=
A-E = A-(B+D) = (A-B)-D”
A juventude, portanto, é composta por 15 coortes. Em 2013, o tamanho de cada uma
dessas 15 coortes de jovens variava
entre 3,2 e 3,6 milhões, segundo a SAE, o que resulta em uma média pouco
inferior a 3,4 milhões de pessoas por coorte. Daí o total de 51 milhões de
jovens existentes hoje, o que representa pouco mais de ¼ (ou 26%) dos quase 200
milhões de habitantes do país.
Em termos absolutos este período expressa um momento
em que a faixa etária jovem é a mais numerosa de toda história do Brasil.
Porém, vale observar que em termos relativos, a população jovem brasileira em
relação ao todo alcançou seu ápice em 1983 quando correspondia a 29% da
população brasileira.
O tamanho da população de um país, sem dúvida, acentua
o debate sobre desenvolvimento, o qual analisa até que ponto fazer parte de um
grupo matematicamente superior a outros é algo vantajoso. Em particular,
analisar esse momento histórico em que a população jovem do Brasil está
numericamente maior do que em outros períodos, nos leva a considerar quais as
vantagens ou desvantagens que esse momento acarreta para população jovem
brasileira.
Para uma análise mais próxima das vantagens e
desvantagens do tamanho da população jovem brasileira, há de se levar em conta,
como parâmetros, as disponibilidades de fatores, tais como, qualidade de vida, disponibilidade
tecnológica, qualificação e formação educacional da população adulta, para
posteriormente se avaliar quais as implicações que dadas esses condicionantes podem
ou não gerar melhorias sociais e particulares para a população jovem
brasileira.
Em se tratando de população e de desenvolvimento, a
resposta para questão do numero elevado da população jovem desse país não se
define em um caso maniqueísta, porém, o mais sensato é dizer que depende de
termos ganhos crescentes ou decrescentes com o tamanho. Quando os ganhos são
crescentes, a contribuição de um aumento na população será superior à
contribuição média da população pré-existente. Nesse caso, um aumento na população
irá elevar a contribuição média. Quando os retornos são decrescentes, a
contribuição de um aumento na população será inferior à contribuição média da
população pré-existente, levando a uma queda na contribuição média.
Por tanto, ser uma população jovem quantitativamente
mais numerosa que outras faixas etárias, não é em primeiro momento, uma
vantagem direta, porém, se as disponibilidade dos fatores de desenvolvimento
cooperarem para tal, então, as vantagens de ser uma população jovem numerosa
aflorará.
Hipoteticamente,
se no Brasil houvesse baixíssimas disponibilidades de fatores que viessem a
desenvolver a população jovem, tais como, recursos naturais, tecnológicos e
oferta de emprego, em uma situação de numerosa população jovem acarretariam em
uma desvantagem, pois, dadas essas condições e com uma população jovem
numerosa, haveria um diminuição das oportunidades e aumento da concorrência.
Destacando que tal situação, em sentido oposto tenderia a gerar vantagens.
Em uma analise que se aproxime mais da realidade
brasileira no tocante as vantagens e desvantagens que o tamanho da população
jovem brasileira se encontra, destaca se, neste momento histórico, que em
alguns setores da economia o tamanho da população jovem trará vantagens, porém,
em outros setores o quantitativo dessa população estará em desvantagens dado a
baixa disponibilidade de recursos.
Outro aspecto que a atual juventude brasileira,
stricto sensu, os coortes 1984 a 1998 está vivenciando é apresentado na grande
massa de força de trabalho que essa geração hora de jovem vai se tornar na
maior força de trabalho que o Brasil já possuiu. Por tanto, o país está
passando por uma janela de oportunidade, que se houver investimentos
coordenados, principalmente na formação de capital humano, para qualificar essa
grande massa de força de trabalho jovem há de se colher nas próximas décadas
uma força de trabalho adulta bem preparada, capaz de contribuir com mais
efetividade para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
sábado, 24 de agosto de 2013
V COLÓQUIO MARX E OS MARXISMOS
V COLÓQUIO MARX E
OS MARXISMOS
De 21 a 25 de Outubro de 2013
FFLCH-USP
Encontrar um novo mundo por meio da crítica do velho mundo e levar
a cabo a crítica impiedosa e implacável de tudo o que existe sem temer as
consequências dessa crítica eram, em 1843, de acordo Marx, as tarefas do
presente. Desde então, o marxismo buscou fornecer, pela crítica, armas contra a
ofensiva capitalista em todo o mundo. Com a crise econômica de 2008 eclodida
nos Estados Unidos e seus desdobramentos na Europa e fora dela, com os impasses
da esquerda na América Latina, a primavera árabe e os movimentos por ela
inspirados e com a onda de manifestações que varreu as ruas das principais
capitais brasileiras neste ano, continua a ser tarefa do marxismo analisar e
responder, prática e teoricamente, as contradições do capitalismo
contemporâneo.
Devido
à permanência dessa tarefa e de sua crescente necessidade que o LeMarx-USP abre
a chamada para a inscrição de comunicações para o V Colóquio Marx e os
Marxismos, a ser realizado entre os dias 21 e 25 de Outubro, na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Realizado
desde 2007, o colóquio procura reunir pesquisadores – de graduação e
pós-graduação – de diferentes áreas e que tenham o marxismo na base de suas
pesquisas, sejam elas teóricas ou empíricas.
Além das comunicações, ao
final de cada dia ocorrerão mesas com professores convidados (relação que será
divulgada em breve).
Neste ano, os eixos em torno dos quais o colóquio
estará organizado serão:
1. A obra teórica de Marx e Engels
2. As Internacionais Comunistas
3. Política e Teoria do Estado
4. Direito, Democracia e Partidos
5. Arte, Estética e Cultura
6. Psicanálise e Teoria Social
7. Educação no capitalismo e perspectivas de emancipação
8. Economia política contemporânea
9. Movimentos sociais
10. Crises do capitalismo e neoliberalismo
11. Resistências globais ao capital e lutas de classes
12. Marxismo na América Latina
13. Caminhos para o socialismo hoje
14. Imperialismo e Neoimperialismo
15. Filosofia crítica
16. Trabalho ontem e hoje
As normas para a inscrição nas mesas de comunicação estão disponíveis no
blog do LeMarx: http://lemarxusp.wordpress.com.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
CAPITALISMO SUB JUDICE: Uma discussão das crises recentes a partir da leitura de Harvey e Brenner.
[1] Pedro Henrique
Ao longo da história da
humanidade, é de certo modo regular a observação de uma classe de
acontecimentos de grande vulto, capazes de causar grandes impactos na ordem
social, econômica e política preestabelecida, bem como de alterar o curso
natural das muitas vivências no seio das mais variadas sociedades.
Tais eventos podem ser
desencadeados pelos mais variados fatores, todavia é lugar comum considerar que
a partir de meados do século XVI, com a ascensão de um novo sistema de produção
e de organização da vida social, a saber, o capitalismo, eles assumem um
caráter explosivo cada vez mais impactante, ainda mais pelo fato de que tal
sistema simplesmente subjuga de maneira implacável todas as dimensões inerentes
à comunidade global, interligando tais dimensões de maneira terrivelmente
assustadoras quando por algum motivo as suas estruturas normais de
funcionamento são abaladas.
Neste exato momento estamos
presenciando uma conjuntura de crise econômica global representativa da
convergência de uma gama de fatores subjacentes ao processo de extraordinária
acumulação de capital observada principalmente ao longo dos séculos XIX e XX,
aonde um pequeno grupo de nações assumiram o leme do direcionamento político e
econômico global, através de mecanismos de dominação imperialista
historicamente constituídos.
Obviamente que os Estados Unidos
são o centro de gravidade desse processo de expansão irrefreável do
capitalismo, e atingiram esse status, dentre outros motivos, a partir do enorme
poderio militar, político e econômico que adquiriram, principalmente com os
resultados das duas Grandes Guerras do século XX.
Mas é necessário salientar que o
atual momento de crise, é resultado não somente das ações desencadeadas pelas
estratégias imperialistas de um único país, mas sim do conjunto do jogo
representativo da correlação de forças da configuração geopolítica mundial, e a
história mostra que nesse cenário, alguns atores emergem como protagonistas na
condução dos fatos (EUA, Japão, Alemanha, China, etc), enquanto que outros
lutam para firmar as bases de sua representatividade no jogo global, embora
enormemente dificultados pela falta dos recursos políticos e econômicos
acumulados pelo primeiro conjunto de países citados anteriormente, e aqui
poderíamos citar tanto as nações ditas emergentes
(Brasil, Índia, Rússia) quanto as zonas periféricas extremamente carentes, como
a maioria das nações da África, bem como boa parcela das latino-americanas e
asiáticas.
Pois bem, isto posto, podemos nos
debruçar sobre os motivos elencados por David Harvey (em “o Enigma do Capital”,
cap. 01) e Robert Brenner (“A caminho do abismo: a crise na economia dos EUA”,
artigo publicado em junho de 2002) no que tange à deflagração de uma crise sem
precedentes nas profundas estruturas do sistema capitalista, suficiente para
alterar substancialmente a dinâmica das relações de poder no panorama da ordem
geopolítica mundial e abalar seriamente as condições de vida da comunidade
planetária.
Antes de mais nada, é preciso
sublinhar que ambos os autores desenvolvem sua argumentação a partir de uma
discussão detalhada sobre os mecanismos de desregulamentação financeira que se
fizeram mostrar de maneira notável ao longo das últimas décadas,
constituindo-se num novo paradigma da acumulação, aonde os processos de
financeirização, sobrevalorização de ativos, securitização de dívidas, enfim,
uma gama de arranjos institucionais circunscritos à acumulação de capital
fictício, acabaram por suplantar os meios comuns de crescimento via incrementos
produtivos na chamada economia real.
Mas a crise
deflagrada em 2007, fruto do estouro da chamada bolha imobiliária norte-americana (e também britânica, em menor
proporção) é resultado, segundo Brenner e Harvey, de um processo historicamente
constituído de uma sucessão de fatos que se correlacionam no sentido do
estabelecimento de posições hegemônicas por parte tanto de nações, quanto de
eminentes figuras do alto escalão do mundo corporativo empresarial global.
Tais considerações
remontam aos anos dourados do
capitalismo (1945 até fins da década de 60), capitaneados pelas políticas do
chamado estado de bem estar social
keynesiano, passando pela ruptura da estabilidade do período com a crise
deflagrada em 1973 com a arrancada inflacionária dos preços da principal matriz
energética mundial (não obstante o fato de que alguns anos antes do embargo do
petróleo já haviam indícios de uma possível estagnação da prosperidade
capitalista).
É justamente nesse
momento que começam a tomar contornos mais nítidos o desenho de forças mundial
que irá criar as condições necessárias a fomentar um gradual processo de crise.
O que se tem na
década de 70, a partir da crise do petróleo, é um excesso de capacidade
produtiva em desuso, pelo fato de que as grandes potencias, dada a intensa
concorrência internacional (em função da entrada de produtores com baixo custo
do Japão e Europa Ocidental) assumiram a posição de financiar e refinanciar as
mesmas linhas de produção já em movimento, em vez de canalizar os recursos para
linhas alternativas, o que acabou por causar insuficiência de demanda efetiva,
e consequentemente uma alarmante tendência à queda da taxa de lucro.
Para solucionar o
problema, nações como os Estados Unidos e a Inglaterra, adotaram políticas
neoliberais, sob a tutela de chefes de Estado irredutíveis em suas convicções
conservadoras, como Ronald Reagan e Margaret Tatcher, para frear a queda da
taxa de lucro. Na década de 80, isso se materializou em medidas de austeridade
e, principalmente de elevação do desemprego, com a desculpa de combate a
inflação, para tão somente pressionar a oferta de trabalhadores pra cima,
reduzindo automaticamente os salários.
Outra medida de
impacto foram alguns acordos ditos bilaterais
no campo econômico, mas que na prática minavam o poder comercial de algumas
nações em proveito de outras, como o Plaza
Accord de 1985, reduzindo substanciamente o valor do dólar norte-americano
face ao yen japonês e ao marco alemão, deteriorando enormemente os termos das
trocas comerciais desses países em favor da América, ainda mais pelo fato de
que aliado a isso estava uma política de constante arrocho salarial, o que
beneficiava ainda mais o setor manufatureiro dos Estados Unidos.
Todavia tal
expediente precisou ser revertido no início da década de 90, uma vez que o
dramático processo de estagnação e recessão das economias japonesa e alemã,
acabaram por representar uma séria ameaça à estabilidade da economia mundial, e
a percepção norte-americana desse fato, ainda mais porque o Japão era seu
principal credor, fez com que o Governo dos EUA acordasse com as duas nações a
subida do dólar.
Esse fato, para
Brenner:
“(...) Constituiu um ponto de
viragem na evolução da economia mundial. Inverteu as tendências econômicas da
década precedente e , de forma decisiva, preparou o caminho para os principais
desenvolvimentos do quinquênio seguinte: declínio da rentabilidade americana,
subida histórica no preço dos títulos, boom
da economia provocado pela atividade bolsista – e o crash e a recessão que se seguiram.” (BRENNER, 2002, p. 05)
Ocorreu que com a
valorização do dólar via inundação fiduciária do mercado norte-americano pelos
títulos asiáticos, os investidores do mercado financeiro viram aí uma excelente
oportunidade de ação, haja visto que para assegurar a estabilidade na esteira
da crise financeira mexicana, a Reserva Federal baixara os juros de curto
prazo.
Vale aqui ressaltar
que esse processo de valorização do dólar veio pôr termo à guinada de
recuperação do setor manufatureiro norte-americano, acarretando consequente
declínio de sua rentabilidade, reduzindo desta forma o potencial de absorção
das exportações mundiais pelos Estados Unidos, tidos como “mercado de último
recurso”.
A partir da
elevação das expectativas do setor financeiro norte-americano, via elevação do
crédito em grandes proporções, ocorrerá ao longo da década de 90 uma sucessão
de fatos emblemáticos da nova tendência a ser assimilada pelo capitalismo, a
saber, a de contínua financeirização. Esta nova tendência tinha o importante
apoio das autoridades monetárias, como o presidente do Fed à época, Alan
Greespan, que incentivava o constante endividamento das empresas
norte-americanas via emissão de títulos que se valorizavam rapidamente, por
considerar que tal medida era de importância primordial no processo de
recuperação do crescimento. E neste aspecto, é de notável importância destacar
o que houve com a alavancagem inicial e vertiginosa queda posterior das
chamadas firmas ponto.com. Nesse contexto,
tais firmas eram vistas como potenciais geradoras de enormes fortunas (e de
fato o foram, embora baseadas em capital fictício!) pelo contínuo aumento do
desenvolvimento da chamada tecnologia da informação e sua consequente demanda.
Ocorre que tais
firmas eram nada mais nada menos que retratos sofisticados do que de fato
ocorria por trás da aura exuberante de liquidez que se desenhava na economia
norte-americana: empresas com rentabilidade real quase nula, mascaradas por uma
sobrevalorização artificial de seus papéis, baseadas na confiança irracional
por parte dos agentes envolvidos em sua operacionalidade.
Por intermédio de
mecanismos fraudulentos de contabilidade, tais firmas proporcionavam
remunerações absurdamente elevadas a seus correspondentes operadores no mercado
financeiro, bem como aos bancos e intermediários que auxiliavam neste processo
ilusório de alavancagem.
“Crises associadas a problemas nos mercados imobiliários tendem a ser mais duradouras do que as crises curtas e agudas que, às vezes, abalamos mercados de ações e os bancos diretamente. ”
Quando, no início
da década de 2000 a confiança no valor desses papéis enfim se deteriorou, a bolha estourou, gerando enormes perdas
no conjunto das firmas que se relacionavam de forma interdependente,
circunscritas no entorno das ponto.com.
É preciso ter em
mente esse pano de fundo histórico para compreender a crise de dívida recente
que assola os mercados norte-americanos e europeus, pois com o final do estouro
da bolha das firmas ponto.com,
paulatinamente foi se materializando os mecanismos de geração de uma nova
bolha, a saber, a do setor imobiliário, e este processo acabou por assumir
contornos ainda mais dramáticos que o anterior.
Nesse aspecto,
David Harvey escalerece que:
“Crises associadas a problemas
nos mercados imobiliários tendem a ser mais duradouras do que as crises curtas e
agudas que, às vezes, abalamos mercados de ações e os
bancos diretamente. Isso porque, como veremos, os investimentos no espaço
construído são em geral baseados em créditos de alto risco e de retorno
demorado: quando o excesso de investimento é enfim revelado (como aconteceu
recentemente em Dubai), o caos financeiro que leva muitos anos a ser produzido
leva muitos anos para se desfazer.” (HARVEY, p. 14)
Harvey também faz
um interessante paralelo histórico entre a recente crise deflagrada pelo
estouro da bolha imobiliária norte-americana com outros momentos correlatos
como:
1.
Crise
originada no setor imobiliário norte-americano na primavera de 1973, que acabou
por decretar a falência técnica de
Nova York.
2.
Boom
japonês da década de 80 que acabou num colapso do mercado de ações e preço da
terra.
3.
Crise
do sistema bancário sueco, o qual acabou tendo de ser nacionalizado em 1992,
também provocada por excesso nos mercados imobiliários nórdicos.
4.
Colapso
no Leste e Sudeste asiático de 1997 a 1998 em função de um desenvolvimento
urbano excessivo, ocasionado em função de um influxo de capital especulativo
estrangeiro.
A questão da crise
atual é que ela é de maior alcance do que todas essas outras. Deflagrada em
2007, ela se configura como um assombroso processo de expansão das dívidas das
famílias, sendo tais dívidas materializadas em títulos hipotecários que eram
repassados aos bancos em troca de empréstimos, tendo como lastro o valor do
próprio imóvel. Obviamente que esse processo se alastrava em cadeia, com os
bancos e demais instituições securitizadoras em posse de papéis tóxicos dando continuidade num irrefreável movimento de
arrefecimento da oferta de crédito e consequente recessão. Na verdade não
queremos aqui fazer um detalhamento minucioso da dinâmica da crise, e sim
salientar, com o auxílio da obra dos dois pensadores já citados, que ela
constitui um ponto crítico na configuração do sistema capitalista de produção,
na medida em que coloca sub judice os
parâmetros definidores da lógica neoliberal, ideologia de sustentação de tal
sistema implantada a contragosto mundial desde meados da década de 70.
“Na primavera de 2009, o Fundo Monetário Internacional estimava que mais de 50 trilhões de dólares em valores de ativos (quase o mesmo valor da produção total de um ano de bens e serviços no mundo) haviam sido destruídos"
Fato é que, a
sociedade se vê obrigada a socializar
as perdas dos grandes bancos e das grandes corporações diretamente responsáveis
pelo frenesi especulativo que ocasionou o crescimento e posterior estouro da
bolha imobiliária. Milhões de pessoas se veem despejadas de suas casas,
endividadas, desempregadas. Países com grande dependência do comércio mundial
veem suas possibilidades de ganho drasticamente reduzidas em função da flagrante
redução da liquidez internacional. Firmas do setor produtivo têm de conviver
com uma asfixiante redução dos canais de crédito, vitais a seus projetos de
investimento e expansão. E ainda assim, os Governos se colocam a serviço
daquelas megacorporações, oferecendo pacotes
de salvação a firmas grandes demais
para falir.
Os números da
tragédia chegam a cifras realmente assombrosas. Harvey pontua por exemplo, que:
“Na primavera de 2009, o Fundo
Monetário Internacional estimava que mais de 50 trilhões de dólares em valores
de ativos (quase o mesmo valor da produção total de um ano de bens e serviços
no mundo) haviam sido destruídos. A Federal Reserve estimou em 11 trilhões de
dólares a perda de valores de ativos das famílias dos EUA apenas em 2008.
Naquele período, o Banco Mundial previa o primeiro ano de crescimento negativo
da economia mundial desde 1945.” (HARVEY, p. 13)
Obviamente que uma
crise dessa magnitude repercute no mundo todo, dado o caráter extremamente
globalizado da presente conjuntura internacional.
Até mesmo países
como a China, tida como o grande motor do crescimento econômico mundial da
primeira metade da década inicial dos anos 2000, sentiu o efeito da baixa
procura mundial pelos seus produtos e experimentou certa tensão social disso
decorrente. Se falarmos dos países na extrema periferia do mundo, ou ainda
daqueles significativamente dependentes dos canais de endividamento
relacionados à crise (tais como Grécia, Espanha e Irlanda) o quadro é ainda
mais perturbador.
Portanto o que está
em jogo é a legitimidade de estruturas de poder estabelecidas ao longo das
últimas décadas, que acabaram por apresentar falhas fundamentais em seus
mecanismos de auto reforçamento, e que por isso levaram as consequências de
atitudes gananciosas a serem partilhadas por milhões de pessoas na maioria das
vezes totalmente alheias à magnitude da importância histórica dos
acontecimentos.
Mas para aquele
estrato esclarecido da sociedade, afigura-se de vital importância o assomar de
forças no sentido de mobilização em prol de apresentação de novas alternativas
políticas de condução dos povos aos novos rumos a serem tomados, rumos que
possibilitem a contemplação da dimensão humana e ambiental em primeiro lugar.1-Bolsista de Iniciação Científica e discente do Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Palestra: Prof. Dr. Emir Sader. "A ordem capitalista e a dimensão do Brasil nesse contexto"
Emir Simão Sader é Sociólogo e Cientista Político brasileiro. Pensador
de orientação Marxista, Sader colabora com publicações nacionais e
estrangeiras e é membro do conselho editorial do periódico inglêsNew Left
Review. Presidiu a Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um
dos organizadores do Fórum Social Mundial.
Atualmente
é professor doutor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenador do
Laboratório de Políticas Públicas e Secretário Executivo do Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
A integração Regional Amazônica conduzida pela dinâmica da acumulação capitalista
1-Por
Gedson Thiago
A
construção da integração regional amazônica caracteriza-se historicamente pela
atuação muito presente da acumulação capitalista. Ao fazer um retrospecto da
economia brasileira, em particular a economia amazônica, observa-se que ela foi
construída para servi a lógica de uma reprodução ampliada de capital.
A
integração de região amazônica foi “sustentada pela conformação de um modelo
extrativista, das drogas do sertão, o que produziu um verdadeiro genocídio
indígena” (MARQUES, 2012), no período da colonização portuguesa. Tal situação
foi um prelúdio para os séculos seguintes e também se consolida no momento
atual, dado que a economia da região amazônica se mantém como primaria-exportadora.
Ao fazer um retrospecto da economia brasileira, em particular a economia amazônica, observa-se que ela foi construída para servi a lógica de uma reprodução ampliada de capital
A
economia da borracha na Amazônia no fim do século XIX inicio do século seguinte,
não se comportou de forma diferente, pois, a borracha produzida na região via o
sistema de aviamento, condicionou mais uma vez a economia local em primaria-exportadora,
com baixa agregação de valor e apropriação bruta da natureza sem grande
incorporação tecnológica. Ocorreu que a economia extrativa da borracha
amazônica enfrentou uma concorrência devastadora dos seringais asiáticos (os
quais começaram a existir com as sementes das seringas saqueadas da Amazônia),
levando-a a uma profunda crise seguida de sua decadência.
A
economia da borracha amazônica voltava a tomar um fôlego no período da segunda
guerra mundial, pois, os seringais da Ásia estavam todos arrasados pela guerra,
sem condições de produzir sua matéria-prima, o látex. Nenhuma mudança no que
tange a estrutura econômica ocorreu a não ser a condução da mão-de-obra nordestina
pelo governo federal para a Amazônia, que veio a formar os soldados da
borracha, e estes produzindo num regime primário-exportador.
Nesse
período, pós segunda guerra mundial, a divisão internacional do trabalho (DIT)
agiu no sentido de consolidar na região amazônica a dinâmica de uma economia agrário-exportadora,
tal configuração fortaleceu o sentido que as nações periféricas passaram a
desempenhar na ótica da dos países desenvolvidos, uma simples produtora de
matérias-primas.
A
integração da região Amazônica foi também fortemente marcada pela extração
mineral. Em 1945 foi descoberta na serra do navio, no Amapá, grandes reservas
de manganês “explorada pela mineradora Icomi, que na pratica representava os
interesses da multinacional norte-americana Bethlehem Steel” (MARQUES, 2009). A
extração mineral feita por essa empresa esgotou as reservas de manganês de alto
teor em apena 13 anos, de 1957 quando houve a primeira exportação até 1970. O
que levaria 50 anos para esgotar terminou bem antes pela exploração sem
responsabilidade social deixando um enorme passivo social na região.
A
trajetória da exploração mineral na Amazônia segue com as descobertas de
reservas minerais de manganês na serra do Sereno em 1966 em Marabá-PA pela
Codin subsidiaria da Union Carbide, das reservas de ferro em Carajás-PA em 1967
pela United States Steel, e das Reservas de bauxita (matéria-prima do alumínio)
foram encontradas em Oriximiná-PA em 1969, exploradas pela Companhia Vale do
Rio Doce. Posteriormente o programa grande Carajás, parte integrante do
programa polamazônia (1974), concentrou grandes investimentos na região
amazônica o que delineou a ocupação de região por meio desses grandes projetos
minerais, o qual o governo federal criou as condições estruturantes para o
capital privado se instalar na região amazônica colocando-a como área
estratégica para economia dos países imperialistas.
Por
tanto, a integração regional da Amazônia foi conduzida pela atuação direta da
acumulação capitalista, pois, desde a exploração e envio do exclusivo
metropolitano pelos portugueses, passando pela economia da borracha e seguido
pela dinâmica dos grandes projetos minerais, mostrou se que a acumulação de
capital (o processo de acumulação da massa de capital após cada ciclo deste,
mantidos constantes os elementos que os constitui, meios de produção e força de
trabalho – forma valor do capital) por parte do empresariado nacional e
internacional foi “servido de bandeja” pelo governo brasileiro com seus
financiamentos a fundo perdido e seus incentivos fiscais.
Outro
aspecto relevante a observar na integração regional da Amazônia em todos esses
períodos é a dinâmica econômica nela desenvolvida (primário-exportadora) que
sempre se realizava na esfera da comercialização (D – M –D’) o que inibia
investimento privado deixando para o estado a responsabilidade de criar a
infra-instrutora de forma que a economia
da Amazônia não se desenvolveu de forma a gerar uma distribuição de renda
equitativa.
1-Bolsista de Iniciação Científica e discente do Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará.
1-Bolsista de Iniciação Científica e discente do Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará.
MARQUES, Gilberto de Souza. Amazônia uma moderna colônia energético mineral, 2012
segunda-feira, 10 de junho de 2013
CARTA DE BELO HORIZONTE - XVIII CONGRESSO DA SEP
A Sociedade de Economia Política (SEP) existe já há 19 (dezenove) anos, sendo que alcança sua maturidade realizando seu XVIII Congresso Nacional. Vale reforçar que a SEP surge enquanto organização que agrega o debate da heterodoxia econômica brasileira, especialmente o campo do pensamento marxista está ali representado, porém outras linhas, como os pós-keynesianos e shumpterianos têm importante espaço de participação.
Divulgamos abaixo a Carta de Belo Horizonte, observando que a atual crise capitalista estimula o reforço do pensamento crítico e da construção de uma estratégia de longo prazo que proponha uma alternativa social ao capitalismo.
Conferir o restante da Carta de BH
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