Gedson Thiago Borges[1]
Desenvolvimento,
enquanto qualidade de vida superior e desfrute da riqueza nacional por sua
população é sem dúvida o alvo desejado por qualquer nação. Observando a
construção histórica das economias latino-americanas fica claro, que os modelos
tradicionais de desenvolvimento “para fora” e “para dentro”, tiveram expressiva
influência, visto pela importância do setor externo da economia, analisado pelo
desempenho de duas variáveis chaves para se entender as características desses
modelos: a exportação e a importação.
A exportação como
variável exógena responsável pela geração considerável de parcela da renda
nacional e pelo crescimento do mesmo e as importações como fonte flexível de
suprimento dos vários tipos de bens e serviços necessários ao atendimento de
parte apreciável da demanda interna. Para entender com mais profundidade o
modelo de desenvolvimento da America Latina, primário-exportador, faz-se
necessário uma comparação entre o modelo de desenvolvimento dos grandes centros
econômicos com as economias periféricas.
No caso das economias
centrais, o papel das exportações representou um componente importante na
formação da renda nacional, porém, não é atribuída a ela a inteira responsabilidade
pelo crescimento econômico. O que ocorre no modelo de desenvolvimento dos
grandes centros é que somado a essa variável exógena (exportação) existe uma
variável endógena, o investimento autônomo associado com as inovações
tecnológicas, que proporcionaram a esses grandes centros econômicos um melhor
aproveitamento das oportunidades do mercado externo.
Comparando com a
America Latina, o setor exportador representava a única forma de dinamizar a
economia bem como responsável por promover o crescimento econômico e evitar
possíveis estrangulamentos do balanço de pagamentos. De outro modo, sob o ponto
de vista marxista, a baixa dinamicidade do departamento de produção de bens de
capital (DI) e a forte concentração de renda que caracteriza quase todo o
subcontinente latino-americano levou a
forte influência daquele padrão durante as duas décadas pós-2° Guerra.
Vale observar ainda que
a pauta de exportação latino-americana era extremamente limitada (e em diversas
medidas ainda continua sendo), impossibilitando assim uma diversificação da
capacidade produtiva, e assim como o setor exportador ser um enclave de
propriedade estrangeira.
Contudo,
o desenvolvimento do setor externo das economias periféricas latino-americanas gerou
intenso processo de urbanização e possibilitou a instalação de indústrias de
bens de consumo tais como de tecidos, calçados, vestuários e móveis que
representavam baixo nível de produtividade. Portanto, o interessante a observar
está no fato de que a reduzida atividade industrial aliada a agricultura de
subsistência não poderiam criar um dinamismo econômico interno o que indica que
o crescimento econômico latino-americano estava vinculado ao crescimento
econômico do setor externo aquecido pela demanda externa dos produtos
primários.
O papel das importações
desempenhado nos grandes centros econômicos é diferente daquele observado no
modelo de desenvolvimento “para fora”. As importações para os grandes centros
econômicos tinham características de suprir matérias-primas em que os recursos
naturais não podiam dar satisfatoriamente. Diferente das economias
primário-exportadora que além de resolver o mesmo problema tinham que importar
bens de consumo terminados e bens de capital induzido pelo crescimento exógeno
da renda caracterizando um novo aspecto das importações para as economias da
America Latina. O centro da problemática do crescimento “para fora” está na
divisão internacional do trabalho (DIT) imposto pela própria lógica de
desenvolvimento do capitalismo internacional que estabelece uma relação
geoeconômica entre economias centrais e economias periféricas.
Observa-se que nas
economias centrais, não há uma separação da capacidade produtiva de atender os
mercados internos e externos, pois, o que é produzido internamente é destinado
para consumir tanto na exportação quanto atende as demandas internas
suficientemente. Assim, a produção dos países desenvolvidos se dá por
diferenciação de produtos e não por setores produtivos distintos.
Ao contrário do que
ocorre nos países da América Latina em que há uma nítida separação do setor
destinado a produção externa e aquele direcionado a produção interna. O setor
externo é de alta rentabilidade econômica embora com poucos produtos
comercializados. Já o setor interno era de baixa produtividade e basicamente de
subsistência e incorporava a parcela da população com poder aquisitivo.
Por outro lado, a alta
concentração de propriedades dos recursos naturais e do capital, sobre tudo do
setor mais produtivo, o exportador, dava lugar a uma distribuição de renda
extremamente desigual. Exposto dessa forma compreende-se que, a maior parte da
população auferia níveis de renda muito baixo que as excluía dos mercados
monetários e as classes de altas rendas tinham padrões de consumo similares aos
dos grandes centros que por sua vez eram atendidas pelas importações. Assim com
o esquema da divisão internacional do trabalho e a distribuição desigual da
renda, residia a disparidade entre a estrutura da produção e a demanda interna,
cujo o ajuste se dava pelo mecanismo do comércio exterior.
As questões apontadas acima por Maria da
Conceição Tavares[2],
que retratam a situação da economia brasileira, na qual sempre se apresentou
com forte dependência dos centros dinâmicos da economia mundial continua a se
apresentar como tal. O comércio internacional brasileiro, atualmente tem se
comportado de forma a aprofundar as relações de dependência das grandes
economias dado que a sua característica primária exportadora tem se acentuado
firmemente nas ultimas décadas.
A desindustrialização
da economia brasileira, ou de outro, a transformação da economia do país
baseada na produção de bens primários, tem elevado o coeficiente de bens básico
por industrializados no período de (1995 a 2010) o que implica dizer que tal fato tem acentuado as características da
divisão internacional do trabalho que determinam uma situação em que o Brasil
se encontra como simples produtor de bens primários para economias centrais.