quinta-feira, 16 de maio de 2013

Hobsbawm e a leitura de Marx: o mundo pode mudar antes do retorno do Maia Intergaláctico[1]!



Por José Trindade


   O capitalismo enfrenta sua mais grave crise dos últimos 60 anos. A rápida escalada em que os desencontros da crise de superprodução em alguns setores e países, aliada a financeirização e a crescente desregulação econômica, produz quadro clínico no qual o “enfermo” parece cada vez mais caminhar-se para uma septicemia, quadro generalizado de infecção e no qual as doses do fortíssimo antibiótico da “austeridade” parece não fazer efeito, somente agravando o quadro clínico.

    Nos últimos cinquenta anos o capitalismo aprendeu com as crises do início do século, em geral buscou desenvolver uma armadura institucional que, em diferentes graus conforme o país possibilitou o que o professor Eric Hobsbawm denominou em seu esplêndido “Era dos Extremos” de “Golden Age”, uma idade de ouro do capitalismo e para certa parte da humanidade, segundo o historiador não mais que um quarto e menos que um terço da cornucópia humana pode de fato “curtir” plenamente esse período.

    Essa idade do ouro entra em crise já no final do século XX, talvez a “quente” década de 1970 seja o primeiro momento de “surtos” recorrentes de crise capitalista. Certa teoria de “saltos críticos” pode ser a explicação. Na medida em que a “armadura institucional” pode ter rupturas, ou o que talvez explique melhor, a rigidez na fluidez dos ganhos (lucros, juros, royalties, etc.) produzidos foi questionada por parte importante das “classes burguesas”, especialmente os segmentos vinculados ao andar das finanças.

    O parcial desmonte ou fissura da “armadura institucional” recolocou em novos níveis e com formato distintos as crises clássicas de superprodução, subconsumo e inaugurou, desde então, novas formas de crise, desde a centrada nos fenômenos de desvalorização monetária (décadas de 70/80) até as crises relacionadas ao chamado capital fictício, ou seja, referentes à desvalorização de títulos de diferentes origens. Aspecto fundamental é que o aprofundamento do atual tipo de crise leva a questionar a própria base da pirâmide de créditos, onde se encontram os títulos da divida pública das economias capitalistas centrais.

Antes de nos deixar, o prof. Eric Hobsbawm nos presenteou com importante livro, lançado em meio ao clima de crise capitalista global: “Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo”, trabalho de fôlego que identifica na construção teórica marxista momento privilegiado de análise racionalista do desenvolvimento social humano. Hobsbawm possibilita aos leitores um breve passeio pelo central da análise marxista, demonstrando não somente a atualidade do “demônio de Trier”, como também confirmando, com a história, de que “convém duvidar de tudo”, o lema predileto de Marx.
Hobsbawm possibilita aos leitores um breve passeio pelo central da análise marxista, demonstrando não somente a atualidade do “demônio de Trier”, como também confirmando, com a história, de que “convém duvidar de tudo”, o lema predileto de Marx.
Os textos de Hobsbawm são, como muitos reconhecem, magnificamente bem escritos e, ponto notável, a tradução de Garchagen é esmerada. Vale reforçar dois capítulos, a meu ver, especialmente interessantes: o capítulo 7 “Marx e as formações pré-capitalistas”, necessário a compreensão das transições entre “modos de produção”, algo importante a se apreender da história é como a humanidade permanentemente “reinventou” seus processos reprodutivos econômicos e sociais. Por outro, o capítulo 12, único texto dedicado exclusivamente a um teórico pós-Marx: Antônio Gramsci. O autor italiano foi, segundo Hobsbawm, um “clássico” per se, sendo que sua leitura se faz imprescindível porque “entre os teóricos marxistas, foi ele quem percebeu com maior clarividência a importância da política como uma dimensão especial da sociedade e porque compreendeu que a política envolve mais do que o poder”. 

Nestas épocas de definições imprecisas e de capitalismos moribundos, mais do que nunca convém estudar a história, melhor ainda sob as lentes telescópicas de Marx e da boa escrita de Hobsbawm.

(Texto publicado originalmente no blog Proposta Democrática, com algumas alterações.)



[1] Referência a música “O retorno do Maia Intergaláctico” de Lulu Santos.

2 comentários:

  1. Magnífico texto, Trindade. Gostaria de participar do Grupo.

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  2. Prezado prof. Mairata é com alegria que recebemos seu comentário e aguardamos sua participação.

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