quinta-feira, 6 de junho de 2013

Desenvolvimento Capitalista: dominação e crise social

Discente de ciências econômicas Arthur da Costa

Parece estranho falar de desenvolvimento capitalista dado o estado de alienação que ele produz, mas devemos analisar que a forma da sociedade capitalista é dialética, onde um fenômeno ocorre de forma contraditória, afirmando, muitas vezes, sua própria negação. Analisar também que os fenômenos se inter-relacionam e que a sua construção acontece em uma cadeia causal, mas se torna imperativo retornar a elementos antecedentes para construir a uma lógica, uma cadeia causal sistêmica, não obstante, se identifica partes desse sistema que separadamente não o representa, ou seja, a parte soma das partes não representam o todo, mas o todo representa as partes. Marx inicia seu estudo com noções abstratas, o que para ele o levaria a conceitos simples e abstrações cada vez mais tênues, obtendo, assim, as mais simples determinações  e assim alcançaria uma representação cada vez mais completa e rica na totalidade. Desta maneira, o sistema é representado pelo conjunto dessas partes sendo uma forma concreta. No livro Ler Marx os autores nos apresentam a análise do abstrato ao concreto no método científico de Marx:
[...] o concreto é concreto por que é a síntese de determinações múltiplas, assim, unidade da diversidade. [... ] como resultado e não como um ponto de partida”.
Seguindo esse pensamento temos a reprodução do concreto, nada mais é que o total dos processos que ocorrem em seu interior e que se prolongam até tornar o sistema preponderante. Desta forma a exposição teórica marxista demonstra ser a melhor análise tanto da sociedade em que Marx viveu e estudou, mas também nos proporciona um arcabouço teórico para analisar a sociedade contemporânea. Em seu estudo este cientista social dissecou a sociedade capitalista para demonstrar sua verdadeira dinâmica, explicar suas formas mascaradas pela necessidade de ser encoberta, para que só assim continue dominante através da alienação dos envolvidos neste sistema.
            Para o capital é forçoso uma constante evolução, para que se possa através do seu desenvolvimento tornar-se dominante. Esse progresso acontece tanto das formas que ele abarca quanto essas formas dialeticamente o transformam, assim, o capitalismo tem o aspecto histórico de transformação no próprio sistema (concorrencial, industrial, financeiro, etc.), e consequentemente a transfiguração de suas formas estruturais. Marx partiu da hipótese que na sociedade capitalista, ao transformar algo (esfera da sociedade capitalista), e se transformar em algo (esfera econômica), o capital domina o homem e este, com a evolução das formas de produção, domina a natureza. Através dessa análise, pode-se observar que a influência do capital se inicia pelas formas físicas, que se interligam com ambiente social não apenas tornando-lhe reflexo (pois se o fizesse não haveria evolução, continuaria em estado constante, podendo até ser crescente, mas com caráter constante), mas ele se transmuta através de uma retroalimentação, ou seja, da relação de troca entre os fenômenos envolvidos.
             Esta metamorfose encontra bases tanto internas do capital, quantos externas a ele, pois ele dispõe de condições estruturais para tal, mas que necessita da contraparte das formas externas para se legitimar e alcançar a sua reprodução (Estado, questões geopolíticas, culturais etc.), esta aceitação (legitimação) demonstra o grau elevado de dominação a que o capital alcança e a mais danosa para sociedade. A superestrutura referida por Marx manifesta o predomínio que o pensar dominante alcança na sociedade, que passa a ter como verdade incontestável  sobre forma de repressão (leis) e alienação. Usando um termo da escola francesa de regulação ¹, tem que se haver uma contratualidade, para que as partes individuais tornem-se um todo controlável e funcional, tornando o sistema mais coeso por um tempo, evitando as instabilidades imanentes de um sistema com tamanha desproporcionalidade de tais partes. Neste sentido nos tornamos produto do meio (a partir do momento em que somos influenciados ideologicamente pela necessidade do convívio social), e também meio do produto (pois autenticamos e reproduzimos esse pensar).
            Desta forma o capital se reproduz, ou melhor, se desenvolve, mas não tem a ação de desenvolver (ação deferida a algo ou alguém). Ele é capaz de desenvolver a esfera econômica, mas ao se espraiar para as outras esferas (políticas, social, cultural etc...) ele apenas as sucateia, se utiliza, mas não as desenvolve (no sentido de cercar), não as liberta, pois essas esferas tem que ser um prolongamento das peculiaridades da  esfera econômica, das condicionalidades materiais, não obstante o capitalismo representa “progresso e o desenvolvimento gradual do material sobre o humano e sobretudo, o desenvolvimento da sua moralidade ²”.  


¹Esta escola de pensamento firmou sua teoria com preceitos de que a sociedade capitalista se constituía  através da criação de um aparato regulatório que, uma vez aceito pelos agentes econômicos, tende a agir de forma a combater as instabilidades inerentes desse sistema em constante desequilíbrio.

  ²’Fazendo uma referencia ao pensamento do economista francês Turgot  "O progresso é o desenvolvimento gradual do poderio humano sobre a matéria; é, sobretudo, o desenvolvimento da sua moralidade."

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