Discente de ciências
econômicas Arthur da Costa
Parece estranho falar de desenvolvimento capitalista dado o estado de
alienação que ele produz, mas devemos analisar que a forma da sociedade
capitalista é dialética, onde um fenômeno ocorre de forma contraditória, afirmando, muitas vezes, sua própria negação. Analisar também que os fenômenos se inter-relacionam e que a
sua construção acontece em uma cadeia causal, mas se torna imperativo retornar
a elementos antecedentes para construir a uma lógica, uma cadeia causal sistêmica, não obstante, se identifica partes desse
sistema que separadamente não o representa, ou seja, a parte soma das partes
não representam o todo, mas o todo representa as partes. Marx inicia seu estudo
com noções abstratas, o que para ele o levaria a conceitos simples e abstrações cada vez mais tênues, obtendo,
assim, as mais simples determinações e
assim alcançaria uma representação cada vez mais completa e rica na totalidade. Desta
maneira, o sistema é representado pelo conjunto dessas partes sendo uma forma
concreta. No livro Ler Marx os
autores nos apresentam a análise do abstrato ao concreto no método científico
de Marx:
[...] o concreto é concreto por que é a síntese de determinações múltiplas, assim, unidade da diversidade. [... ] como resultado e não como um ponto de partida”.
Seguindo esse
pensamento temos a reprodução do concreto, nada mais é que o total dos processos
que ocorrem em seu interior e que se prolongam até tornar o sistema preponderante.
Desta forma a exposição teórica marxista demonstra ser a melhor análise
tanto da sociedade em que Marx viveu e estudou, mas também nos proporciona um
arcabouço teórico para analisar a sociedade contemporânea. Em seu estudo
este cientista social dissecou a sociedade capitalista
para demonstrar sua verdadeira dinâmica, explicar suas formas
mascaradas pela necessidade de ser encoberta, para que só assim continue
dominante através da alienação dos envolvidos neste sistema.
Para o capital é forçoso uma constante evolução,
para que se possa através do seu desenvolvimento tornar-se dominante.
Esse progresso acontece tanto das formas que ele abarca quanto essas formas
dialeticamente o transformam, assim, o capitalismo tem o aspecto histórico
de transformação no próprio sistema (concorrencial, industrial,
financeiro, etc.), e consequentemente a transfiguração de suas formas
estruturais. Marx partiu da hipótese que na sociedade capitalista, ao
transformar algo (esfera da sociedade capitalista), e se transformar em
algo (esfera econômica), o capital domina o homem e este, com a evolução
das formas de produção, domina a natureza. Através dessa análise, pode-se
observar que a influência do capital se inicia pelas formas físicas, que
se interligam com ambiente social não apenas tornando-lhe reflexo (pois se
o fizesse não haveria evolução, continuaria em estado constante, podendo
até ser crescente, mas com caráter constante), mas ele se
transmuta através de uma retroalimentação, ou seja, da relação de
troca entre os fenômenos envolvidos.
Esta metamorfose encontra bases
tanto internas do capital, quantos externas a ele, pois ele dispõe de condições
estruturais para tal, mas que necessita da contraparte das formas externas para
se legitimar e alcançar a sua reprodução (Estado, questões geopolíticas,
culturais etc.), esta aceitação (legitimação) demonstra o grau elevado de
dominação a que o capital alcança e a mais danosa para sociedade. A
superestrutura referida por Marx manifesta o predomínio que o pensar dominante
alcança na sociedade, que passa a ter como verdade incontestável
sobre forma de repressão (leis) e alienação. Usando um termo da escola francesa
de regulação ¹, tem que se haver uma contratualidade,
para que as partes individuais tornem-se um todo controlável e
funcional, tornando o sistema mais coeso por um tempo, evitando as
instabilidades imanentes de um sistema com tamanha desproporcionalidade de tais
partes. Neste sentido nos tornamos produto do meio (a partir do momento em
que somos influenciados ideologicamente pela necessidade do convívio social),
e também meio do produto (pois autenticamos e reproduzimos esse
pensar).
Desta forma o capital se reproduz, ou
melhor, se desenvolve, mas não tem a ação de desenvolver (ação deferida a algo
ou alguém). Ele é capaz de desenvolver a esfera econômica, mas ao se
espraiar para as outras esferas (políticas, social, cultural etc...) ele
apenas as sucateia, se utiliza, mas não as desenvolve
(no sentido de cercar), não as liberta, pois essas esferas tem que ser um
prolongamento das peculiaridades da esfera econômica, das
condicionalidades materiais, não obstante o capitalismo representa “progresso e
o desenvolvimento gradual do material sobre o humano e sobretudo, o
desenvolvimento da sua moralidade ²”.
¹Esta escola de pensamento firmou
sua teoria com preceitos de que a sociedade capitalista se constituía através
da criação de um aparato regulatório que, uma vez aceito
pelos agentes econômicos, tende a agir de forma a combater as instabilidades inerentes desse sistema em
constante desequilíbrio.
²’Fazendo uma referencia ao pensamento do economista francês Turgot "O progresso é o desenvolvimento gradual do poderio humano sobre a matéria; é, sobretudo, o desenvolvimento da sua moralidade."
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